segunda-feira, 17 de outubro de 2016

O dia 16 de outubro marca o dia da fundação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, em 1945.
Uma vez que ontem se comemorou mais um dia da alimentação e sendo a água um elemento fundamental para a nossa sobrevivência aqui fica um poema de António Gedeão.

Lição sobre a água

Este líquido é água.
Quando pura
é inodora, insípida e incolor.
Reduzida a vapor,
sob tensão e a alta temperatura,
move os êmbolos das máquinas que, por isso,
se denominam máquinas de vapor.
É um bom dissolvente.
Embora com excepções mas de um modo geral,
dissolve tudo bem, bases e sais.
Congela a zero graus centesimais
e ferve a 100, quando à pressão normal.
Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão,
sob um luar gomoso e branco de camélia,
apareceu a boiar o cadáver de Ofélia
com um nenúfar na mão.

António Gedeão

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

António Gedeão - Poeta do mês de outubro

Como cientista e humanista António Gedeão criou poemas para nos falar da falta de sentido dos preconceitos.
Na sua linguagem de cientista prova-nos "no laboratório" que o racismo não tem qualquer sentido.
Do belo poema outros fizeram canções.

Aqui ficam as palavras escritas
(recolhidas em https://poemasdomundo.wordpress.com/2006/11/04/lagrima-de-preta/)
e cantadas por Adriano Correia de Oliveira,
num vídeo recolhido no youtube.

Aqui fica, sobretudo, um tema para refletir.

Lágrima de Preta

Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterlizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Madei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
António Gedeão (1906-1997)


quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Notícias Nossas

Temos hoje o grato prazer de anunciar obra publicada de uma poetisa que se estreou por aqui.

A Inês foi aluna do nosso agrupamento e colaboradora do nosso blogue. Aqui publicou, entre 2009 e 2013,  diversos poemas que podes consultar no arquivo do blogue.

Hoje tem a alegria de ter publicado o seu primeiro livro de poesia, que aqui anunciamos com muita satisfação e carinho. Parabéns à Inês, parabéns à editora Poesia Fã Clube!

Aqui fica um poema extraído da obra:

Berço de Ilusão

Mundo se sorrisos
mundo de poesia
mundo de feitiços
mundo de hipocrisia.

Mundo que tenta transparecer
quem não é oponente
aos tempos de dor que se estão a estender
a este promissor continente.

Mundo de apostas perdidas
e de costas voltadas
onde guerras causaram feridas
que jamais podem ser saradas.

Mundo de exclusão
é assim que nós temos de viver
fomos crescendo num berço de ilusão
enquanto os nosso sonhos acabam por desvanecer.


Muito nos honra continuar a merecer a confiança desta novel poetisa. Obrigada Inês!

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Bom dia,

Fazemos votos de um bom regresso a um novo ano letivo, e para que não falte poesia no vosso percurso académico e pessoal vamos criar novas rubricas tais como O poeta do mês e  Poemas que se escondem nas canções.
Para este mês escolhemos António Gedeão, pseudónimo poético de Rómulo de Carvalho, licenciado em Ciências Físico-Químicas.
Nasceu em Lisboa, em 1906.Enquanto professor e com o seu nome verdadeiro, foi responsável pela publicação de vários livros de história da ciência, manuais escolares e trabalhos de divulgação científica. Alguns destes livros destinam-se a um público infantil e juvenil.
Fez tardiamente a sua estreia poética, em 1956, mas cedo revelou a preocupação com o destino do homem. Alguns dos seus poemas foram transformados em canções, e versos como “ Pedra Filosofal"passaram a ser ouvidos com frequência. 
Morreu em 1997, em Lisboa.
É frequente encontrar nos seus poemas a ligação entre a cultura literária e o conhecimento científico, sendo, muitas vezes, constatações e explicações de fenómenos científicos. 
Aqui fica o primeiro poema...

Todo o tempo é de poesia

Todo o tempo é de poesia
Desde a névoa da manhã
à névoa do outro dia.
Desde a quentura do ventre
à frigidez da agonia
Todo o tempo é de poesia
Entre bombas que deflagram.
Corolas que se desdobram.
Corpos que em sangue soçobram.
Vidas qu'a amar se consagram.
Sob a cúpula sombria
das mãos que pedem vingança.
Sob o arco da aliança
da celeste alegoria.
Todo o tempo é de poesia.
Desde a arrumação ao caos
à confusão da harmonia."

António Gedeão, in Movimento Perpétuo