sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Aos poetas

Somos nós
As humanas cigarras.
Nós,
Desde o tempo de Esopo conhecidos...
Nós,
Preguiçosos insectos perseguidos.

Somos nós os ridículos comparsas
Da fábula burguesa da formiga.
Nós, a tribo faminta de ciganos
Que se abriga
Ao luar.
Nós, que nunca passamos,
A passar...

Somos nós, e só nós podemos ter
Asas sonoras.
Asas que em certas horas
Palpitam.
Asas que morrem, mas que ressuscitam
Da sepultura.
E que da planura
Da seara
Erguem a um campo de maior altura
A mão que só altura semeara.

Por isso a vós, Poetas, eu levanto
A taça fraternal deste meu canto,
E bebo em vossa honra o doce vinho
Da amizade e da paz.
Vinho que não é meu,
Mas sim do mosto que a beleza traz.

E vos digo e conjuro que canteis.
Que sejais menestréis
Duma gesta de amor universal.
Duma epopeia que não tenha reis,
Mas homens de tamanho natural.

Homens de toda a terra sem fronteiras.
De todos os feitios e maneiras,
Da cor que o sol lhes deu à flor da pele.
Crias de Adão e Eva verdadeiras.
Homens da torre de Babel.

Homens do dia-a-dia
Que levantem paredes de ilusão.
Homens de pés no chão,
Que se calcem de sonho e de poesia
Pela graça infantil da vossa mão.

Miguel Torga

Marcadas

Nós raparigas,
Nascemos marcadas
É como se fossemos traídas
Mas ninguém fez nada!

Temos uma infância descansada
Por outro lado,
A nossa adolescência é atribulada,
E em adultas,
Acabamos conformadas!

Não existe nada a fazer,
Há quem diga que é uma bênção!
Eu cá dava tudo para não a ter,
Porque ás vezes é uma aflição!

O mais irritante
É que os rapazes
Conseguem ser tão ignorantes,
Mas acabam por ser capazes,
De nos “ajudar”,
O “segredo” guardar!

É este o nosso destino
Embora não seja o mais fino,
Não nos podemos queixar,
Porque em breve
Vamo-nos conformar!

Elsa Silvestre nº7, 9ºD

Será fácil esquecer?!

A cada minuto que passa me identifico
somente com a maneira de ser desta vida
a cada passo que dou verifico
que estou cada vez mais longe do tiro de partida.

Não é nos meus olhos que está o meu eu
não é no meu interior que está o meu ser
não é por palavras sentidas que a minha alma cresceu
não é por estas lágrimas que eu te vou perder.

Sei que quando anoitecer
os nossos mundos se vão fundir
garanto-te que não é fácil esquecer
cada vez que os nossos olhos se voltam a unir.

Caí na ignorância de me prender
a um sentimento que não consigo suportar
serei eu capaz de viver
sabendo que nunca mais te vou abraçar.
Inês

Sem Coração

Hoje à noite ouvi contar
a história de alguém que não tem coração
chorei e não consegui acabar
esta triste narração.

Como consegues ser uma pessoa tão fria
eu não mudei mas tu mudaste
nunca te preocupaste com o que eu realmente sentia
apenas com as aparências sempre te importaste.

Nunca saberás por tudo o que passei
sempre a desejar pôr um ponto final
numa história da qual eu não iniciei
mas que não revelo a personagem principal.

O teu sorriso, o teu olhar
era tudo pura camuflagem
não entendo porque me quiseste apanhar
se neste tempo que passou eras um mera miragem.
Inês

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Amigos

Queres saber o que ando a fazer?
Será que estou a ler?
Ou a escrever?
Queres mesmo descobrir?

Então numa viagem vais ter de ir!
Estou no meio do mar,
Ou em Gondomar!
Aposto que vais conseguir!

Neste preciso momento
Estou a escrever,
Possivelmente sobre um monumento,
Ou sobre o lançamento
De um poema que andei a rabiscar!

Nada disso!
O que estou a fazer,
É um poema escrever
Para que vocês possam ler,
E saber, o quão feliz eu estou,
Por vos ter!

Elsa Silvestre, nº7, 9ºD

domingo, 14 de novembro de 2010

Segunda-feira

Dois dias...
aqueles dias de suspiro
os dias de descanso
aqueles dias em que a gente,
e não digo exageradamente,
grita profundamente
a felicidade que sente.


Porém,
alguma coisa os atormenta,
alguma coisa experimenta
desafiar esta alegria,
que acaba por ter fim
com a chegada deste dia.


O seu nome é Segunda
que afunda, afunda,
o repouso sentido
numa manhã de Domingo.


Enfim,
mais um dia de preguiça,
mais um dia de trabalho,
mais um dia de estudo,
mas, contudo,
é bom estar de volta
onde pertenço,
onde faço tudo.

ACE

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Mas há a vida

Mas há a vida
que é para ser
intensamente vivida,
há o amor.

Que tem que ser vivido
até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.

Clarice Lispector (1920-1977)

Triste Passeio

Vou pela estrada, sozinha.
Não me acompanha ninguém.
Num atalho, em voz mansinha:
"Como está ele? Está bem?"

É a toutinegra curiosa:
Há em mim um doce enleio...
Nisto pergunta uma rosa:
"Então ele? Inda não veio?"

Sinto-me triste, doente...
E nem me deixam esquecê-lo!...
Nisto o sol impertinente:
"Sou um fio do seu cabelo..."

Ainda bem. É noitinha.
Enfim já posso pensar!
Ai, já me deixem sozinha!
De repente, oiço o luar:

"Que imensa mágoa me invade,
Que dor o meu peito sente!
Tenho uma enorme saudade
De ver o teu doce ausente!"

Volto a casa. Que tristeza!
Inda é maior minha dor...
Vem depressa. A natureza
Só fala de ti, amor!

Florbela Espanca (1894-1930)

Lua adversa

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha


Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...


E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

Cecília Meireles (1901-1964)

Soneto do gato morto

Um gato vivo é qualquer coisa linda
Nada existe com mais serenidade
Mesmo parado ele caminha ainda
As selvas sinuosas da saudade

De ter sido feroz. À sua vinda
Altas correntes de eletricidade
Rompem do ar as lâminas em cinza
Numa silenciosa tempestade.

Por isso ele está sempre a rir de cada
Um de nós, e ao morrer perde o veludo
Fica torpe, ao avesso, opaco, torto

Acaba, é o antigato; porque nada
Nada parece mais com o fim de tudo
Que um gato morto.

Vinicius de Morais
E quando um conto se transforma em poema? Apreciem este belo exemplo concebido numa actividade conjunta pela turma do 9ºA, a propósito da leitura de um conto de Eça de Queirós «O Tesouro», que faz parte do Plano Nacional de Leitura.

O tesouro

Três fidalgos de Medranhos
Conhecidos e falados em todo o reino
Como pobres e miseráveis que eram
Para uma caçada partiram…
E pela mata de Roquelanes
Um tesouro descobriram
Entre o desabrochar da natureza.

Com alegria e desconfiança
Urdiram um plano de vingança
Três chaves, três fechaduras,
Seguidas de três travessuras.

Com ar despreocupado
Duas manhas planearam
Guanes a cavalo partiu
E para Retortilhos seguiu
Trauteado a sua sinistra canção.

Em adoração àquele precioso tesouro
Rui tentando Rostabal envenenar
Para Guanes do mapa tirar.
Rostabal na armadilha caiu,
Pois a sua ingenuidade o traiu…
Três facadas no seu irmão espetou
E assim a vida e a chave lhe tirou.

Rui movido pela sua ambição
Decidiu acabar com o segundo irmão
Tirando a chave da sua mão.

Cumprida a missão
Único herdeiro do tesouro ficou
Mas foi apanhado pelo seu irmão
Na sua última refeição.

Desde veneno a facadas
Várias vidas foram levadas…
Dentro do tesouro havia o ouro,
Mas o ouro estragou o tesouro.

Poema colectivo do 9ºA

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Sonho

No fim do dia
Caio em cima da cama,
E nunca acreditaria
Mas caí na lama!

Num sono profundo fiquei,
Um anjo tentou-me resgatar
Mas uma vez que entrei…
Ninguém me pode ir buscar!

Estou bem cá no fundo,
Existe uma escada
Contudo, ninguém neste mundo
Acredita que chegue à entrada!

Nesta cidade invicta
Não sou a única,
Mas talvez a única a querer
Subir com vontade de viver!

Quero correr pr’a frente
O único obstáculo
É a quantidade de gente
A puxar-me para este buraco!

Ainda acredito em Jesus,
No meio de tão pouca luz!
Sei que lá acima vou chegar,
Não sei quanto tempo vou demorar…

Estou a meio caminho
Para chegar
Quero ser recebida com carinho
E voltar a amar!

A minha essência
É a minha paciência!
Por fim cheguei,
Nada mudou,
Está tudo como deixei,
Agora que estou aqui,
Parece que nunca saí daqui!

As pessoas não pararam de viver
Só por eu estar a dormir
Ninguém quis saber
O que estava a sentir
Enquanto estava a sonhar
O mundo continuava a rodar!
Elsa Silvestre, 9ºD

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Prosa Poética

A poesia nem sempre é tão formal como aparenta ser e desengane-se quem pensa que o verso é a única forma que ela tem de se apresentar. Efectivamente, as nossas leituras permitem-nos encontrá-la disfarçada em prosa; é então que determinadas palavras carregadas de sentimento e lirismo resplandecem e espreitam por entre linhas que nos deixam perceber que um narrador se transformou em sujeito poético, que nos delicia sem o rigor da forma, do ritmo ou da rima, mas com a mesma exigência literária e estética.
Esta mistura de modos literários ganha um novo apelido prosa poética e quem sabe não encontras agora uma nova forma de te expressar.
Aqui te deixamos um exemplo, que nos encantou:

"Quem me dera ter um jardim e saber das plantas e pô-las a florir e aquilo resistir, ou saber as que são de inverno e as que são de verão e funcionar como um indutor de beleza, seguro e consequente, durante o ano inteiro. Quem me dera que se visse alguma beleza que eu criasse, que eu pudesse oferecer, quem me dera que fosse uma beleza de perfumar e estivesse diante da minha casa por onde passassem as pessoas a ficarem alegres por ali passarem. Quem me dera que os poemas fossem coisas de corolas e cores e perdurassem inverno e verão, perfumando diante da minha casa.

Um poema onde as abelhas pousassem. Que incrível seria se houvesse um poema que soubesse oferecer pólen às abelhas, garrido como se dissesse as coisas às cores, intenso como se tivesse fragrância, delicado como se pudesse morrer. Um poema que pudesse morrer. Um que criasse em nós a urgência de o nutrir, vigiar, cuidar com as forças todas para que perdurasse como milagre vivo por gerações e gerações. Prezamos sempre melhor o que é passível de ser perdido para sempre. Queria poemas assim, à medida de mim que me vou perdendo para sempre lentamente."

valter hugo mãe, Autobiografia imaginária: Um poema que pudesse morrer, JL, nº 1044

Já nada me agarra a esta vida

Jogos de luta e de poder
talvez decidam muitas personalidades
mas eu acabo por me perder
entre violência e crueldades.

Relançar a moeda pode definir
uma vida, uma situação
no meu caso apenas vi surgir
de novo o meu sonho, a minha ilusão.

Anseio o futuro, jogo no presente
espero por um sinal
não temo nada espero somente
que esta longa história tenha um final.

Não me basta mover este sentimento
se não controlo este papel com tinta derramada
já não luto, já nada faço para esquecer aquele momento
onde infelizmente caí em tamanha cilada.
Inês Marques

CRESCER A TEU LADO

Hoje não vou andar por aí
Está a chover e as nuvens estão negras
O meu coração vagueia em ti
Perdoa-me os tantos dilemas

Esta pressão que me carrega
Este tempo inacabado
Pedi sempre, mas sempre ao mundo
Para crescer ao teu lado

Um olhar, um simples gesto
Um sorriso, um carinho
Numa noite escura e fria
Tu iluminas o meu caminho

Queria-te só dizer mais uma coisa
É que este poema só tem um intuito:
Quero te sempre aqui comigo
E apenas te amo muito.

Ana Cláudia Soeiro Rebelo , nº2 , 8ºB

Myth- és e sempre serás