segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A Leitora

Sempre que morre um Poeta o Mundo fica mais pobre. O Universo da Palavra perde um dos seus artesãos.

A semana passada perdemos António Ramos Rosa, que, com 88 anos, continuava cheio de projetos de escrita.

A melhor homenagem que podemos fazer a um Autor é continuarmos a ler os seus trabalhos, tornando-o imortal.

Como leitoras, para os leitores deste blogue, aqui publicamos A Leitora de António Ramos Rosa.


A leitora abre o espaço num sopro subtil.
Lê na violência e no espanto da brancura.
Principia apaixonada, de surpresa em surpresa.
Ilumina e inunda e dissemina de arco em arco.
Ela fala com as pedras do livro, com as sílabas da sombra.

Ela adere à matéria porosa, à madeira do vento.
Desce pelos bosques como uma menina descalça.
Aproxima-se das praias onde o corpo se eleva
em chama de água. Na imaculada superfície
ou na espessura latejante, despe-se das formas,

branca no ar. É um torvelinho harmonioso,
um pássaro suspenso. A terra ergue-se inteira
na sede obscura de palavras verticais.
A água move-se até ao seu princípio puro.
O poema é um arbusto que não cessa de tremer.

António Ramos Rosa, in "Volante Verde"


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