Sempre que morre um Poeta o Mundo fica mais pobre. O Universo da Palavra perde um dos seus artesãos.
A semana passada perdemos António Ramos Rosa, que, com 88 anos, continuava cheio de projetos de escrita.
A melhor homenagem que podemos fazer a um Autor é continuarmos a ler os seus trabalhos, tornando-o imortal.
Como leitoras, para os leitores deste blogue, aqui publicamos A Leitora de António Ramos Rosa.
A
leitora abre o espaço num sopro subtil.
Lê na violência e no espanto da
brancura.
Principia apaixonada, de surpresa em surpresa.
Ilumina e
inunda e dissemina de arco em arco.
Ela fala com as pedras do livro, com as
sílabas da sombra.
Ela adere à matéria porosa, à madeira do vento.
Desce pelos bosques como uma menina descalça.
Aproxima-se das praias
onde o corpo se eleva
em chama de água. Na imaculada superfície
ou na
espessura latejante, despe-se das formas,
branca no ar. É um torvelinho
harmonioso,
um pássaro suspenso. A terra ergue-se inteira
na sede
obscura de palavras verticais.
A água move-se até ao seu princípio puro.
O poema é um arbusto que não cessa de tremer.
António Ramos Rosa,
in "Volante Verde"
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