quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

ALGUÉM QUE MUDOU

Certo dia alguém acordou,

abriu as persianas

Olhou para o mundo,

Encarou-o,

Mas não conseguiu,

Sentia-se frágil e fraco,

Sem sentimento,

Sem reacção

Queria reagir,

Não conseguia,

Queria gritar,

Não podia,

Queria fugir,

Fumegar do cansaço,

Sentir-se útil

Ter importância

Nalgo ou em alguém,

Queria poder fazer o que nunca tinha feito,

Olhar para onde nunca tinha olhado,

Cheirar o que nunca tinha cheirado,

Recordar o que tinha esquecido,

Amar quem não tinha amado,

Mas não podia,

Algo o prendia,

Seria o medo da vida,

Ou a própria morte?

Algo o fazia esquecer,

Esquecer o mundo,

Mergulhar numa visão só dele,

Algo onde ninguém conseguia entrar,

Algo que apenas tinha sido aberto uma única vez

E fechado tantas vezes quantas tinha sido aberto,

Era um mundo sombrio,

Escuro,

Sem luz,

Sem vida,

A tristeza reinava,

E a morte era o soberano futuro,

A alegria,

Era a alergia,

A luminosidade,

Indiferente,

A luz,

Longínqua,

A paz,

Inexistente,

O pesadelo,

Real.

Para este quadro

Pintado de negro,

Negro que nem carvão,

Negro que nem a escuridão,

Negro como as profundezas.

Apenas havia uma solução,

A derrota,

Tudo na vida dele era uma derrota,

Ele era um derrotado,

Achava que nada valia a pena.

Lutar?

Lutar para quê?

Apenas servia

Para gastar as ultimas forças que tinha,

Gloria?

Para quê gloria?

Para ganhar falsas relações,

Construir tudo à base de ambições,

Egoístas,

Liquidas,

Insuportáveis?

Nada a pena valia,

Apenas lhe servia

Para ocupar o coração pequeno

De bases vitais

Hipócritas,

Sem escrúpulos,

De sentimentos,

Puros ou impuros,

Que ao mínimo maremoto

Só o faria sofrer,

Matar a sua alma,

Límpida,

Gentil,

Humilde,

Levando-o à sua morte cruel.

O dia ia escurecendo,

O sol enfraquecido,

Ia descendo,

A lua minguante,

Ia subindo,

Forte,

Reconfortante,

E a tristeza

Desta pobre vida

Ia aumentando,

A cada hora,

Minuto,

Segundo,

Até que as persianas se fecharam,

Como se olhos quisessem

Descanso eterno.

Durante os meses seguintes,

Nada mudou,

Vidas entraram na casa,

Mas nunca na sua alma.

Vidas tentaram,

Tentaram o impossível,

Mas não conseguiram,

Vidas mudaram-se,

Olhavam,

Pela primeira vez,

Para aquele pobre coitado com outros olhos,

Já não eram olhos de ignorância,

Mas sim de pena,

De toques suaves nos cubos gelados,

Que se começavam a derreter,

De sentimentos puros despertados,

De lágrimas libertadas.

Algo estava a acontecer,

Pela primeira vez a tristeza sentia algo!

Sentia o despertar tardio de rasgos nos lábios,

Sentia-se útil,

Finalmente tinha percebido

Que a sua vinda em terra

Não tinha sido em vão,

Mais cedo ou mais tarde,

Sensibilizaria alguém,

E essa hora tinha chegado!

Os anos passaram-se,

As recuperações atrasaram-se,

Até ao dia

Em que o milagre aconteceu!

O impensável aconteceu,

E o fraco

Levantou-se

De onde estava deitado

Há mais do que tempo passado.

Sentia algo diferente,

Sentia-se quente,

O coração a palpitar,

A sua mente a levitar,

Até que entraram

Pela casa a dentro,

Queriam saber o sucedido,

Queriam tirar dele

Uma única lição de vida,

Queriam sentir

A sua pura pequena tristeza.

Risos apareceram,

Abraços se formaram,

Entre conhecidos

E desconhecidos,

Amigos

E inimigos,

Estavam todos eles,

Unidos por algo,

Aldeias,

Vilas,

Cidades,

Estavam lá,

Estavam lá para dar apoio,

Estavam lá para mudarem corações,

Estavam lá para comemorarem a vida

E fazerem da morte a morte.

Gargalhadas do pobre,

Pela primeira vez foram ouvidas,

As mãos deste

Conseguiam-se mover,

Os braços estavam fortes como nunca,

A cabeça segura,

As pernas estáveis,

Estáveis o suficiente,

Para conseguirem leva-lo até à beleza natural.

Tudo era diferente,

A cor,

O floral,

O temporal,

O verde verdejante,

Era primavera,

Existia vida,

Pássaros no ar,

Alegria no vento,

Felicidade nas nuvens,

Mas não havia volta a dar,

O destino estava traçado,

O alguém caiu que nem pena,

No chão verdejante

Que se tornara seco,

Círculos se formaram,

Em torno da morte recente,

Lágrimas de tristeza,

Escorreram,

Pedidos de paz para alma

Foram pedidos,

Arrependimentos foram mostrados,

Sentimentos exteriorizados,

Mas não havia volta a dar,

Alguém levara o alguém,

Que sofrera durante anos

E que vivera durante dias

Uma alegria,

Emersa de sorrisos,

De luz,

De paz,

De pura fantasia,

Onde o choro era desconhecido,

E a união fortificada.

Tudo ficara escuro,

A primavera transformara-se em inverno,

E nada mais era igual,

A humildade,

A amizade,

A força,

Tinham-se formado,

De uma forma tão pura,

Fortalezas apareceram,

Como muralhas

Que protegiam as almas.

Nada mais era igual,

E uma vida apenas

De negra escuridão,

Conseguira mudar

O impensável de se mudar.

Tadeu Faustino, 9ºD

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